quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O cara valente

Em 23 anos, aquela foi a segunda vez que o vi assim.
Ali na minha frente, desfeito, exposto, sem a armadura. O cara valente, chorando como menino que pede colo.

Ele, que tantas vezes me fez chorar também. Buscando consolo e pedindo ajuda.

Dizendo que por dentro sentia um grande vazio, que chegava a doer, e que por vezes tentou preencher o buraco que carregava no peito em compras, e o êxtase, dependendo da nova aquisição, poderia durar até 3 semanas. Depois, passava.
Também tentou preencher-se com festas e bebidas, sem chances. O espaço continuava ali, oco, latejando.

Pois acho que antes de tudo, você deve aprender ser humano, ser gente. Se permitir sentir, tirar a máscara e a pose, elas são muito pesadas, e te descaracterizam. Deixe suas verdadeiras cores serem vistas, mesmo que sejam triste. Tire o cartaz, ele não engana, não.
Ah, e deixe o amor invadir esse vazio, para aprender amar e ser amado, nunca é tarde.

"Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora. Eu já vi homem chorar." Clarice Lispector.



PS. PQP, essa Maria Rita é demais, né?!!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A árvore, a poda e a vida

- As vezes, penso que você está regredindo.
- Por quê?
- Ah, você trabalhava numa grande editora e saiu para fazer estágio numa favela. Começou uma faculdade e se tivesse continuado já estaria formada. Tinha um namorado bom que gostava demais de você. E pouco a pouco,se desfez de tudo.

Fiquei com a pulga atrás da orelha, será verdade?

O trabalho - um chefe terrorista, domingos regados a crises de choro por pensar que mais uma semana estava a caminho, pressão, e o oposto de tudo que eu idealizava para o futuro. Na favela, conheci gente grande, enorme, que deixa qualquer nome de empresa ou editora pequenininha.

A faculdade - na época, a única mensalidade que eu podia pagar era a de uma Uni da vida, e lá fui eu, o curso? Publicidade. Não sei se eu morreria de fome, de frustração, provavelmente. Parei no segundo ano e seis meses depois entrei na PUC para fazer Serviço Social. Me encontrei, me encantei com a profissão e estou caminhando para o TCC.

O namoro - bom, esse, nem de longe deve ser considerado uma regressão. Foi um salto, e bem alto. Justamente por ser um cara fofo demais, ele merecia alguém que pudesse retribuir todo o carinho e amor que tinha para entregar, e eu, não podia mais.
Já faz um tempo que ele encontrou essa pessoa, e isso me deixa muito, muitooo feliz.

Esses dias, vendo uma árvore ser podada, pensei, se as árveres somos nozes (rs), também precisamos passar pela poda.
Cortar os galhos que já estão mortos, deixar espaço para que novos possam nascer, crescer e se fortalecer.

As vezes, penso que só estou sendo podada.

E, como diz a canção...
Virando o jogo, transformando a perda em recompensa, e quando olhar pro lado...Eu quero estar cercado, só do que me interessa.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A alma núa

" Que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito. Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe seja linda,ainda que tristeza.
Porque metade de mim é partida. Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas. Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço. Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso. Mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso, que eu me lembro ter dado na infância.
Por que metade de mim é a lembrança do que fui. A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo. Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar. Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia. E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor. E a outra metade,também."

Metade - Oswaldo Montenegro

sábado, 2 de outubro de 2010

Deus

Já faz um tempinho que “dou as caras” por aqui e nunca escrevi sobre Ele, Deus.

Acho que Deus é um cara muito simples, mas demos um jeito de complicá-lo, e de ditar em seu nome religiões, rótulos, bizarrices, fundamentalismos e fórmulas e mais fórmulas para alcança-lo.

Mas, penso que tudo isso, muito pouco quer dizer sobre Deus. Eu imagino que Deus seja um ser cheio de vida, alegria, música, dança, artes, e muito amor. Ele está em mim, em você, no mendigo da esquina, no verde das árvores, aliás, acho que Ele se revela muito através das coisas mais simples, uma flor, por exemplo.

E foi ouvindo a música do Pixinguinha, que senti de uma maneira muito forte a mensagem dele, a simplicidade e o carinho de um Deus que as vezes pensamos ser tão distante e tão duro.


Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim